Topo
Notícias

Trump ordena que líder supremo do Irã se renda: 'Paciência se esgotando'

do UOL

Rafael Leite

Colaboração para o UOL, em Belo Horizonte

17/06/2025 13h31

O presidente dos EUA, Donald Trump, deu um ultimato hoje ao líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei. Trump afirmou que não vão matá-lo "por enquanto", mas que a "paciência está se esgotando".

O que aconteceu

Trump disse, em sua rede social, que sabe exatamente onde está Khamenei e ameaçou, dizendo que ele é um alvo fácil. Na sequência, o presidente norte-americano acrescentou que o líder supremo iraniano está seguro lá e pediu: "Rendição incondicional".

"Não vamos matá-lo, pelo menos não por enquanto", assegurou Trump. Entretanto, o presidente alertou Khamenei sobre disparos contra civis e soldados norte-americanos. "Nossa paciência está se esgotando. Agradecemos a sua atenção a este assunto!"

Antes das ameaças, Trump informou que o espaço aéreo do Irã já está sob total controle. Ontem, os EUA enviaram dois porta-aviões ao Oriente Médio, em um recado direto de que está com Israel no conflito.

Israel iniciou as hostilidades contra o Irã na sexta-feira (13), com o objetivo declarado de acabar com o controverso programa nuclear iraniano. Desde então, os dois países trocaram ataques.

Uma hora após o início das ofensivas, o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, afirmou que o país não estava envolvido nos ataques israelenses ao Irã. "Israel tomou medidas unilaterais contra o Irã. Não estamos envolvidos em ataques contra o Irã e nossa principal prioridade é proteger as forças americanas na região", disse em um comunicado compartilhado pela Casa Branca nas redes sociais.

Apesar de negar o envolvimento, a Casa Branca foi avisada dos planos israelenses. Em entrevista à Fox News, Trump afirmou que sabia que Israel atacaria o Irã e ressaltou que o país islâmico "não pode ter uma bomba nuclear".

Pesquisadores afirmam que os indícios apontam para uma participação "solo" de Israel nos ataques. "Tudo o que sabemos até agora sobre a logística, por exemplo, sobre os drones escondidos no Irã, sugere que Israel realizou o ataque sozinho", disse Sascha Lohmann, membro do grupo de pesquisa para as Américas do Instituto Alemão de Assuntos Internacionais e de Segurança, em entrevista à DW.

Lohmann, entretanto, não descarta a possibilidade de que os EUA tenham ajudado. O envio de 200 jatos militares que voaram para o Irã e retornaram, por exemplo, levanta a questão de se os militares americanos forneceram apoio com reabastecimento aéreo, de acordo com Lohmann.

Enriquecimento de urânio e negociações

Existem dois tipos de programas nucleares: civil e militar. Os programas civis são voltados exclusivamente para usinas nucleares, com o objetivo de gerar eletricidade, enquanto os militares têm como meta a produção de bombas atômicas.

Potências ocidentais, incluindo EUA e Israel, suspeitam que o Irã tem intenção de produzir armas nucleares. Teerã nega e afirma que se trata de um programa civil.

No entanto, o avanço nos níveis de enriquecimento de urânio do Irã pode indicar um objetivo militar, o que é motivo de preocupação. Segundo a AIEA, em 3 meses, a República Islâmica dobrou seu estoque de urânio enriquecido a 60% de pureza, chegando a um nível muito acima do necessário para produção de energia civil.

Oficialmente, Irã não possui armas nucleares. A Arms Control Association, organização norte-americana que monitora os arsenais nucleares pelo mundo desde 1971, divulga que apenas nove países possuem bombas nucleares. São eles: EUA, Rússia, China, França, Reino Unido, Paquistão, Índia, Israel e Coreia do Norte.

O país é o único estado não nuclear que enriquece urânio a 60%, segundo a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica). O país defende o direito ao desenvolvimento nuclear com fins civis, como a geração de energia, e afirma que não aceitará limites nesse aspecto.

Em 2015, após anos de negociação, um acordo foi firmado entre o Irã e a comunidade internacional. Na época, o país concordou em diminuir as atividades nucleares em troca do alívio das sanções econômica impostas contra a República Islâmica.

Mas o EUA se retirou do compromisso em 2018. Em seu primeiro mandato, Donald Trump retirou os EUA do compromisso e os esforços para retomar o diálogo fracassaram. Desde então o Irã se distancia do compromisso de não enriquecer urânio acima de 3,67% —o que foi fixado pelo pacto.

No início do mês, os EUA enviaram uma proposta de acordo sobre o programa nuclear de Teerã. Segundo o New York Times, a proposta pede que o Irã interrompa completamente o enriquecimento de urânio e propõe a criação de um grupo regional para produzir energia nuclear, que incluiria Irã, Arábia Saudita e outros países árabes, além dos Estados Unidos. Sexta-feira, Trump afirmou que foi dado ao Irã um ultimato de 60 dias para um acordo nuclear antes dos ataques de Israel, que aconteceram no 61º dia.

Após a ofensiva israelense, o Irã disse que o diálogo com os EUA sobre seu programa nuclear é "sem sentido". O país também afirmou que o ataque não teria acontecido sem a permissão de Washington.

Israel considera a República Islâmica uma ameaça existencial. Segundo o Exército israelense, informações de inteligência indicam que o Irã está se aproximando de um "ponto de não retorno" em seu programa nuclear.

Trump afirmou que o Irã deve fechar o acordo para que o "massacre" acabe. "Já houve grande morte e destruição, mas ainda há tempo para que esse massacre, com os próximos ataques já planejados sendo ainda mais brutais, chegue ao fim", disse Trump em publicação no Truth Social.

O presidente dos EUA chegou a escrever em tom ameaçador: "Chega de morte, chega de destruição, simplesmente façam, antes que seja tarde demais".

Futuro das negociações é incerto, segundo Lohmann. "Enquanto o conflito continuar com a intensidade atual, é difícil imaginar que as negociações continuem", disse.

Ali Shamkhani, conselheiro do líder supremo do Irã, está entre os mortos. Segundo a revista alemã Der Spiegel, Shamkhani desempenhou um papel importante nas negociações nucleares entre EUA e Irã. Ele teria se mostrado aberto a um acordo, mas também alertou que o governo de Teerã poderia encerrar sua cooperação com a AIEA e expulsar os inspetores nucleares da ONU caso o Irã se sentisse ameaçado.

(Com AFP e DW)

Notícias