Visita de Zelensky a Viena reabre debate sobre presença de espiões russos na Áustria
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, desembarcou nesta segunda-feira (16) em Viena para uma visita de Estado de poucas horas. Essa é a primeira vez que o líder viaja à Áustria desde o início da guerra na Ucrânia, em um momento em que o país demonstra uma preocupação crescente com a presença massiva de espiões russos em sua capital.
Com informações da correspondente da RFI em Viena, Isaure Hiace, e agências
Zelensky se reuniu com o presidente austríaco, Alexander Van der Bellen, em Viena, como parte de seus esforços para garantir a continuidade do apoio ocidental à Ucrânia diante da invasão russa, informou uma fonte da delegação ucraniana.
Logo depois, os dois líderes realizaram uma coletiva de imprensa e Zelensky expressou sua intenção de encontrar o presidente americano, Donald Trump, à margem da reunião do G7 no Canadá, que começou neste domingo (15).
"Um dos temas que discutirei com o presidente Trump, durante um encontro, será um lote de equipamentos militares que a Ucrânia está pronta para comprar", indicou o líder ucraniano.
"Todos nós devemos trabalhar para que a aliança entre a América e a Europa não se desfaça. Isso é do interesse de todos", insistiu, dizendo que "não consegue imaginar, nem hoje, como viver e lutar sem a ajuda dos Estados Unidos".
Apoio da Áustria à Ucrânia
Zelensky permanecerá apenas algumas horas na Áustria, um dos últimos países da União Europeia a ainda não tê-lo recebido desde o início da invasão da Ucrânia pela Rússia, em fevereiro de 2022. Em um comunicado, a presidência ucraniana destacou que os dois presidentes discutiram a continuidade do apoio de Viena à Ucrânia.
A visita de Zelensky é acompanhada com atenção pelo Kremlin. O governo de Van der Bellen se preocupa com o aumento de espiões russos em seu território. O fenômeno não é novo: a Áustria, um país historicamente neutro, ganhou, desde a Guerra Fria, fama de ser um paraíso para agentes secretos, principalmente sua capital.
Desde o início da guerra na Ucrânia, a espionagem russa tem sido o foco de todas as atenções no país. Nos últimos anos, diversos escândalos revelaram que a inteligência de Moscou tem sido especialmente intensa na capital austríaca. A preocupação é tamanha que a Direção de Segurança Nacional e Inteligência da Áustria lançou recentemente um alerta em seu último relatório.
Embora seja difícil obter um número preciso de espiões russos presentes em Viena, sabe-se que parte desses agentes possui uma proteção oficial, como na embaixada da Rússia na Áustria. O serviço de Inteligência austríaco afirma que 258 diplomatas e empregados técnicos e administrativos da Rússia estão acreditados no país: vários são suspeitos de atuarem como espiões.
Por isso, as autoridades austríacas recomendam a a expulsão de funcionários da embaixada russa, acreditando que isso ajudaria a reduzir o risco. No entanto, desde 2020, Viena baniu apenas 11 membros do corpo diplomático da Rússia, um número baixo em relação a outros países europeus, mas que degradou as relações com Moscou.
Laços econômicos
No entanto, diferentemente da maioria dos países europeus, a Áustria mantém laços econômicos com Moscou. Um dos principais bancos austríacos, o Raiffeisen Bank, continua sendo o maior banco ocidental ainda presente na Rússia. Em 2022, Zelensky chegou a criticar a permanência da instituição no país.
A visita do líder ucraniano a Viena, aliás, irrita a extrema direita austríaca. O partido ultranacionalista FPÖ, que lidera as pesquisas eleitorais, criticou duramente a visita de Zelensky.
"Nossa população tem o direito de saber por que a Áustria compromete sua credibilidade na política externa, enterra sua neutralidade e, assim, coloca em risco sua própria segurança", declarou o líder da legenda, Herbert Kickl.