Dólar recua com decisões de BCs, tensões no Oriente Médio e incertezas comerciais em foco
Por Fernando Cardoso
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar à vista recuava ante o real nesta segunda-feira, conforme os investidores se posicionavam antes das decisões de uma série de bancos centrais ao longo da semana, enquanto o foco permanecia em torno do aumento das tensões geopolíticas no Oriente Médio e das incertezas comerciais.
Às 9h49, o dólar à vista caía 0,46%, a R$5,5160 na venda.
Na B3, o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento tinha baixa de 0,64%, a R$5,533 na venda.
Os movimentos do real nesta sessão tinham como pano de fundo a fraqueza da moeda norte-americana no exterior, com o dólar devolvendo ganhos obtidos na semana anterior na esteira da escalada do conflito entre Israel e Irã.
Em momentos de tensões geopolíticas, o dólar em geral é visto como um ativo seguro e tende a ser favorecido pelo sentimento de aversão ao risco que domina os mercados. Esse cenário foi observado na sexta, quando a moeda dos Estados Unidos avançou sobre seus pares.
Neste pregão, no entanto, o dólar não conseguia sustentar seus ganhos, já que os investidores seguem demonstrando uma certa aversão a ativos dos EUA em meio às incertezas provocadas pela política comercial errática do presidente Donald Trump, que gera preocupações de desaceleração econômica global.
Os mercados estão ansiosos com a aproximação do prazo que Trump estabeleceu para fechar acordos comerciais, que se dá em três semanas, com os EUA distantes de entendimentos com seus principais parceiros, como Japão e União Europeia.
O receio pelo retorno das taxas punitivas no próximo mês ofuscava momentaneamente os temores gerados pela guerra no Oriente Médio.
"As tensões geopolíticas têm proporcionado pouco impulso ao dólar até o momento, refletindo a persistente desconfiança dos mercados em seu status de porto-seguro", disse Eduardo Moutinho, analista de mercados do Ebury Bank. "Os investidores estão relutantes em desfazer suas posições vendidas em dólar."
O índice do dólar -- que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas -- caía 0,29%, a 97,991.
Os agentes financeiros também estão se posicionando para uma série de decisões de política monetária nesta semana, incluindo do Federal Reserve e do Banco Central do Brasil.
A autoridade monetária norte-americana divulgará sua decisão na quarta, com ampla expectativa de que mantenha a taxa de juros inalterada mais uma vez, enquanto avalia os impactos econômicos das políticas do governo Trump.
Já o BC brasileiro entrará no encontro desta semana com suas opções em aberto, com as apostas de investidores divididas entre a manutenção dos juros em 14,75% ano -- com 68% de chance -- e uma alta de 0,25 ponto percentual -- com 32% -- para o anúncio de quarta-feira, segundo dados da LSEG.
"Não há consenso se o Copom manterá a Selic ou se vai promover um último ajuste. A inflação continua pressionada, e a incerteza fiscal voltou ao centro do debate", afirmou Diego Costa, head de câmbio para o Norte e Nordeste da B&T XP, em nota.
Na frente de dados, a economia no Brasil iniciou o segundo trimestre com crescimento acima do esperado em abril, de acordo com dados do BC. O Índice de Atividade Econômica (IBC-Br), considerado um sinalizador do Produto Interno Bruto (PIB), teve expansão de 0,2% em abril, ante projeção de ganho de 0,1%.