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Inter vê consignado privado com "excelentes olhos", mas aprendizado exige cautela

10/06/2025 14h26

Por Paula Arend Laier

SÃO PAULO (Reuters) - O Inter vê o crédito consignado privado com "excelentes olhos", mas tem adotado uma abordagem ainda cautelosa nessa modalidade de empréstimo, afirmou o presidente-executivo do banco no Brasil, Alexandre Riccio, destacando que há um ciclo de aprendizado que envolve esse novo "jovem produto".

"Nós gostamos muito do produto, acreditamos muito que ele será um produto enorme, muito bom para o brasileiro", afirmou o executivo em entrevista à Reuters em São Paulo na segunda-feira, estimando um mercado da ordem de R$250 bilhões. "Mas ainda é um momento de cautela em termos de crescimento."

Em março, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva editou medida provisória criando o "Crédito do Trabalhador", o programa que dará a trabalhadores do setor privado acesso a empréstimos com desconto em folha de pagamento garantidos por recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).

Na ocasião, o Palácio do Planalto citou em nota estimativa do setor financeiro de que 19 milhões de empregados celetistas optem pela consignação dos salários em até quatro anos com o programa, o que pode representar mais de R$120 bilhões em empréstimos contratados, contra estoque atual de R$40 bilhões.

Dados do Ministério do Trabalho e Emprego até a véspera mostram que os empréstimos sob essa modalidade já alcançam R$14,6 bilhões no país. O Inter já emprestou R$606,7 milhões, segundo a pasta, um forte crescimento em relação ao dado divulgado pelo banco, R$197 milhões, para os primeiros 10 dias após o lançamento do produto no final de março.

Riccio explicou que ainda há riscos operacionais e de inadimplência que precisam ser mitigados. O executivo acrescentou que os consignados em geral são produtos que têm uma operação já conhecida, mas têm um nível de complexidade.

"Tem toda a questão de averbação, repasse, o que fazer em diversas situações, onde, por exemplo, o cliente perde emprego, que no consignado privado vai ser algo muito mais recorrente (que no funcionalismo público). Esse ciclo de aprendizado, ele vai ser importante", acrescentou, avaliando que é "algo para pelo menos um ano" e "progressivo".

Falando do mercado como um todo, Riccio estimou que, uma vez que esse aprendizado for evoluindo e os riscos sendo mitigados, o setor deve ver "reduções materiais" nas taxas de juros cobradas nessa modalidade, o que vai aumentar seu potencial.

PLANO 60/30/30

O executivo também se mostrou otimista com o efeito potencial do crédito consignado no plano 60/30/30 do Inter, anunciado em janeiro de 2023, em que o banco prevê atingir 60 milhões de clientes, um índice de eficiência de 30% e um retorno sobre patrimônio líquido de 30% até 2027.

"O consignado privado não faz parte do 60-30-30... De repente, nasce um produto que pode ter R$250 bilhões de mercado endereçável", disse Riccio, citando que se o Inter tiver uma participação de mercado de 5%, parecida com o que o executivo afirma ser a fatia no crédito com garantia FGTS, já seriam R$12,5 bilhões.

Ao final do primeiro trimestre, o Inter tinha 37,7 milhões de clientes, sendo 21,6 milhões de clientes ativos.

O executivo afirmou que o ritmo de abertura de contas tem sido positivo e que o Inter tem observado boas oportunidades para poder crescer o ritmo de aberturas, incluindo o consignado privado. No primeiro trimestre, foram adicionados 1,6 milhão de novos clientes em relação ao final de 2024.

"Se mantivermos esse ritmo...atingiremos a meta", afirmou. "Nós estamos com um produto muito bom, marca forte, bem posicionado, acho que desproporcionalmente bem posicionado em relação ao 'market share' que já temos hoje, o que para mim é um bom indutor de que o caminho de crescimento está mais ou menos pavimentado. Tem que ter boa execução", afirmou.

Riccio também reforçou a perspectiva do ROE do Inter chegar a 30% no final de 2027, a despeito das previsões de analistas, em torno de 18%, entre eles a equipe do UBS BB. No primeiro trimestre, essa linha do balanço ficou em 13,6%, de 9,7% um ano antes. Em 2024, o ROE alcançou 11,7%.

"A credibilidade do plano é crescente... Na medida que formos entregando, trimestre após trimestre, o crescimento de resultados, eles (os analistas no mercado) também vão ajustando as projeções deles para cima."

O executivo também afirmou que o banco tem todo o potencial para poder continuar aumentando a receita em cerca de 30% ao ano. "No nosso contexto, não é tanto assim, porque temos participações de mercado que já são relevantes, mas ainda nos permitem crescer", afirmou.

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